RESUMO
Este artigo apresenta
uma breve exposição sobre a vida pré-histórica focada no Estado do Rio Grande
do Sul e no achado paleontológico de uma das espécies mais antigas de
dinossauros encontradas no mundo: o Guaibasaurus
Candelariensis. Apresenta também uma reflexão sobre a importância dos
descobrimentos dos fósseis, do estudo e da divulgação do conhecimento para o
público.
Palavras-chave: Guaibasaurus Candelariensis.
Dinossauro. Paleontologia.
ABSTRACT
This article shows a brief presentation about prehistoric
life focused on the Rio Grande do Sul State and on the paleontological finding
of one of the oldest dinosaur species found in the world: Guaibasaurus Candelariensis. It also reflects on the importance of
the discoveries of fossils, study and dissemination of knowledge to the public.
Keywords: Guaibasaurus Candelariensis. Dinosaur. Paleontology.
1 INTRODUÇÃO
Objeto
de curiosidade de adultos e fascinação de muitas crianças, os dinossauros,
habitantes do Planeta Terra há milhares de anos, deixaram registros importantes
para entendermos um pouco mais sobre como evoluiu nosso planeta até os dias
atuais. Com a popularização de filmes e animações sobre esses animais
pré-históricos, milhares de pessoas visitam museus em busca de uma aproximação
dos fragmentos das grandes bestas hollywoodianas.
Extintos há milhões de anos por
motivos ainda não totalmente esclarecidos, o público ainda encontra peças
fósseis em ótimo estado de conservação em museus do mundo todo. No Brasil não é
diferente. Vários fósseis já foram encontrados e estudados por paleontólogos de
todo o país. E no Rio Grande do Sul? Os grandes e perigosos répteis carnívoros
também passaram por aqui? Sim. E podem ser observados e estudados em alguns
museus do Estado. Um deles, tido como um dos melhores museus de história natural
ligados à pré-história, o Museu de Paleontologia Irajá Damiani Pinto, abriga e estuda
alguns desses exemplares, dentre eles uma réplica do curioso Guaibasaurus Candelariensis. De uma
forma objetiva, veremos um pouco da história e as curiosidades do estudo dos
dinossauros no Rio Grande do Sul através de um dos “dinos” mais gaúchos de
todos os tempos.
2 OS RÉPTEIS TERRÍVEIS
O
termo dinossauro foi originalmente introduzido pelo paleontólogo inglês Sir
Richard Owen em 1842. Essa palavra vem do grego e pode ser traduzida como “réptil
terrível”. Talvez nenhum outro grupo de animais extintos tenha gerado tanto
interesse por parte dos visitantes de museus como o desses fósseis. Essa
popularização cresceu com a abordagem do assunto por filmes como “Jurassic
Park” na década de 1990, que continuam a fazer muito sucesso com suas
sequências mesmo depois de 20 anos de seu lançamento.
Passados mais de 170 anos da
denominação que Owen criou para esses animais, as pesquisas e as teorias sobre
os dinossauros não param de crescer. Uma dessas teorias é a hipótese que faz
referência ao fato de nem todos os dinossauros terem se extinguido e as aves serem
descendentes dos dinossauros. Essa teoria, apesar de não ser nova, ganhou força
nos últimos 15 anos. Alguns estudiosos são contra essa ideia, vendo as aves
como um grupo distinto dos dinossauros, mas “cada vez mais cresce o número de
cientistas que defendem a ideia que as aves são dinossauros com penas que
aprenderam a voar” (KELLNER; LEAL; AZEVEDO, 2009, p. 234).
Existem características únicas em
diversas espécies de animais. Nos dinossauros não é diferente. Uma dessas
características está localizada em um orifício na região da bacia onde a perna
se encaixa com o resto do corpo. Essa região chama-se acetábulo, o qual nas
aves também é perfurado, reforçando assim a teoria apresentada anteriormente.
Essas sinapomorfias, ou seja, as
características únicas encontradas em seres de mesma espécie, nos dinossauros
totalizam 17. Desse modo, diferente do que a maioria das pessoas acredita, não
basta ser um fóssil de animal gigante e extinto para ser considerado um
dinossauro. Em se tratando de tamanho, nem todos eram de dimensões colossais.
Alguns não eram muito maiores do que uma galinha e outros podiam chegar até
quase 50 metros de comprimento, como no caso do Argentinosaurus.
Os restos fossilizados de
dinossauros são encontrados em todos os continentes, inclusive aqui em solo
tupiniquim. A incidência de fósseis desses animais é maior em desertos, ou
seja, em locais onde a cobertura vegetal é escassa ou ausente. No Brasil,
apesar de ser um local com um potencial para descoberta desses animais, foram
descritas ou estão em fase de descrição pouco mais de duas dezenas de espécies
de dinossauros. Contudo, foi em solo brasileiro, segundo os pesquisadores
Kellner, Leal e Azevedo (2009, p. 238), mais “especificamente nos sedimentos
das formações Santa Maria e Caturrita, que alguns dos animais mais primitivos
foram encontrados”. Totalizam cinco espécies formalmente descritas, sendo uma
delas o Guaibasaurus Candelariensis.
3 GUAIBASAURUS E OS DINOS DOS PAMPAS
O
Rio Grande do Sul tem uma importância essencial para os amantes da
paleontologia, ou seja, os cientistas estudiosos do passado do Planeta Terra
através dos fósseis. Isso ocorre porque esse Estado do sul do Brasil estava
situado há 230 milhões de anos no centro do imenso Continente Pangea, que
reunia todos os continentes em um só, e segundo estudiosos, foi nessa região,
hoje conhecida como sul do Continente América do Sul, que os dinossauros
surgiram. Teoricamente, os resquícios dos dinossauros mais antigos do mundo estão
no país vizinho do Rio Grande do Sul, a Argentina.
Essa proximidade com o Estado faz
com que os gaúchos possuam fósseis desses animais pré-históricos tão antigos
quanto os dos argentinos. O Staurikosaurus
pricei, por exemplo, encontrado em Santa Maria, é o fóssil de dinossauro
mais antigo descrito no Brasil. Acredita-se que tenha aproximadamente “225
milhões de anos, fazendo dele um dos dinossauros mais antigos do mundo”
(KELLNER; LEAL; AZEVEDO, 2009, p. 239).
Entre os dinossauros encontrados no
Rio Grande do Sul, um em especial chama a atenção não só pela descoberta do
fóssil e pela datação do início do Período Triássico, mas pelo gracioso nome com
que foi batizado.
O Guaibasaurus Candelariensis recebeu esse nome em 1999, ano em que
foi identificado, em homenagem ao Rio Guaíba, devido ao projeto pró-guaíba que
apoia pesquisas no Brasil sobre o período Triássico. Já Candelariensis faz referência à cidade próxima onde foi encontrado
o primeiro fóssil dessa espécie de dinossauro. Segundo os estudos dos
pesquisadores Bonaparte, Ferigolo e Ribeiro (1999, p. 89), o primeiro fóssil de
Guaibassauro foi encontrado a 7,5 km a oeste da cidade de Candelária, no Rio Grande
do Sul, perto da bacia hidrográfica do Rio Guaíba.
Acredita-se que o Guaibassauro tenha
aproximadamente 225 milhões de anos, estando assim “na raiz da linhagem dos
dinossauros que viria a originar os mais incríveis predadores que já habitaram
a terra firme” (ANELLI, 2010, p.120). Essa teoria colocaria o fóssil como o
mais antigo do Brasil, ao lado do Staurikosaurus
pricei.
Até o momento foram encontrados dois
exemplares de Guaibassauro, um em meados da década de 1990 e outro em 2002.
Ambos estão em bom estado, porém não estão completos. Uma das partes que não
foram encontradas foi o crânio. Apesar disso, os fósseis foram de grande valia
para os estudos científicos dessa espécie e possibilitaram a hipótese de como
seria o animal por completo, com dimensões de 0,90 m de altura e 1,80 m de
comprimento. Sabemos ainda que o Guaibassauro era carnívoro, bípede e predador
de pequenos animais vertebrados.
Fato curioso e de grande importância
para a ciência relatado por Agnolin e Martinelli (2012) foi o de o fóssil de
Guaibassauro ser encontrado com as pernas flexionadas e com as mãos cruzadas em
torno do corpo e o pescoço dobrado. Tal posição tem semelhança e característica
de repouso encontrada nas aves e nos mamíferos atuais. Essa posição é
encontrada exclusivamente em animais de sangue quente, pois esse modo de
repouso tem como objetivo reter calor no corpo, principalmente em noites frias.
Sendo assim, há uma possibilidade de os dinossauros, ao contrário do que se
pensava, terem sido animais de sangue quente, diferente dos répteis como
crocodilos e lagartos. Seria mais uma contribuição dos estudos referentes aos
fósseis do Guaibasaurus Candelariensis.
4 CONCLUSÕES
O
fascínio que os animais pré-históricos exercem nos serem humanos em geral é
hoje fomentado pela grande mídia, e os trabalhos de estudiosos do assunto estão
crescendo e trazendo informações importantes para a ciência.
No Brasil e em especial no Rio
Grande do Sul, a Paleontologia tem um papel especial em desvendar os mistérios
escondidos nos solos dos pampas gaúchos. A riqueza para a produção intelectual
desses materiais de milhares de anos espera incentivos para que possamos
entender boa parte do passado do mundo através de nossa terra.
O Guaibasaurus Candelariensis é um exemplo do que pode ser descoberto
em termos de fósseis no Rio Grande do Sul, um local de grande quantidade de
afloramentos fósseis no Brasil, quantidade essa que poderia ser ainda maior e
com possibilidades de mais descobertas.
Os achados fósseis são patrimônios
de indiscutíveis valores. O estudo e a exposição dessas peças devem alcançar
diversos públicos, socializando o saber para todos aqueles, curiosos ou
estudiosos, que queiram saber um pouco mais sobre a evolução, a extinção ou
mesmo a permanência desses seres vivos na Terra, tendo acesso a um mundo
teoricamente antigo, mas academicamente novo no Brasil.
REFERÊNCIAS
AGNOLIN, F; MARTINELLI, A. G. Guaibasaurus
candelariensis (Dinosauria, Saurischia) and the early origin of avian-like
resting posture, Alcheringa: An Australasian Journal of Palaeontology, 2012.
ANELLI, L. E. O. O guia completo dos dinossauros do
Brasil, São Paulo: Peirópolis, 2010.
BONAPARTE,
J. F.; FERIGOLO, J.; RIBEIRO, A. M. A new early Late Triassic saurischian
dinosaur from Rio Grande do Sul State, Brazil. Proceedings of the second
Gondwanan Dinosaurs symposium. National Science Museum Monographs, Tokyo,
1999, 15: p 89-109.
KELLNER, A. W. A.; LEAL, L. A.; AZEVEDO, S. A. K.
Dinossauros de Santa Maria, o berço dos. In: Átila Augusto Stock da Rosa.
(Org.). Vertebrados fósseis de Santa Maria e região. Santa Maria: Pallotti,
2009, p. 233-251.